Vamos continuar, caro leitor. Quero destacar outra agem:

“Decidir em que ponto de seu desenvolvimento e organização um aglomerado de células humanas a a merecer o status de pessoa é uma questão filosófica cuja resposta deve ser informada pela cultura e pela ciência, e a decisão do Alabama viola ambas, a ponto de os legisladores do estado terem sido constrangidos a aprovar leis emergenciais para garantir a reabertura das clínicas.”

Pasternak nunca deve ter se dado ao árduo trabalho de ler o que “dizem por aí” a respeito da concepção como um ponto rigoroso para a origem de uma pessoa

Há tantos problemas nesse parágrafo que não ousaria aborrecer os leitores com os detalhes. Destacarei apenas dois. Primeiro, a afirmação de que “o status de pessoa é uma questão filosófica cuja resposta deve ser informada pela cultura e pela ciência”. Isso é para quem não conhece filosofia e os limites da própria ciência. De fato, ela está certa ao dizer que o status de pessoa é uma “questão filosófica”. Porém, ela está completamente equivocada em dizer que a “resposta deve ser informada pela cultura e pela ciência”. Questões filosóficas são orientadas pelo exercício da razão, pelo critério e vocação de verdades universais, independentemente da cultura. Além disso, a filosofia não se fundamenta na ciência, mas o contrário: os pressupostos da ciência é que são filosóficos.

Há ainda mais um detalhe: a ciência – pelo menos a ciência da natureza, especialidade da Pasternak – não “vê” pessoas, só fatos científicos. “Pessoa” não é uma categoria aberta para o método científico.

O mais constrangedor é um detalhe que a própria Pasternak não conseguiu perceber, talvez pelo excesso de luz advinda da ciência: “a decisão do Alabama viola ambas, a ponto de os legisladores do estado terem sido constrangidos a aprovar leis emergenciais para garantir a reabertura das clínicas”. A decisão do Alabama não violou nada, mas garantiu aquilo que fora informado pela cultura cristã do povo do Alabama. A própria Pasternak reconhece que “é uma questão filosófica cuja resposta deve ser informada pela cultura”. Desde que não seja a cultura cristã, pelo visto.