Unicórnios
Brasil deve ter menos unicórnios em 2020 por conta da crise do coronavírus
Em 2019, cinco startups brasileiras atingiram valor de mercado acima de US$ 1 bilhão e entraram no cobiçado clube dos unicórnios. Com o resultado, o Brasil conquistou o terceiro lugar no ranking dos países com maior número de novos negócios bilionários. Para 2020, a expectativa era ainda melhor: a economia do país indicava recuperação e a Loft havia se tornado unicórnio no início de janeiro para aguçar os ânimos do mercado.
Em março, contudo, a crise do coronavírus derrubou a economia global e obrigou as startups a revisarem planos e enxugarem gastos — a palavra da vez se tornou sobreviver.
“O ano ado foi muito bom, com crescimento e aquisição de startups. A gente esperava que 2020 fosse continuar assim. Agora a expectativa é que elas sobrevivam. Obviamente, algumas vão sair bem disso, como as de telemedicina e de trabalho remoto, mas acredito que elas não estejam mais pensando em se tornar unicórnio agora”, analisou Renata Favale Zanuto, co-head do Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina.
Na avaliação da especialista, tanto as grandes empresas quando as startups deram um o para trás em seus planos para pensar no que fazer diante da crise, como cortar custos e investir em inovação para adaptar produtos ou serviços. “Algumas startups estão perdendo valor, o que pode acelerar a aquisição por grandes empresas. Talvez esse seja o momento para nos unirmos e fortalecermos o ecossistema”, sugere Renata.
Entre as empresas cotadas para se tornar unicórnio este ano está a Cargo X, que captou US$ 80 milhões este mês em sua quinta rodada de investimentos.
“Ninguém teve um sobreaviso sobre a crise. A gente se preparou para o pior. Assim, se vier o melhor, a gente estará pronto”, afirma Daniel Ferraz, diretor financeiro da startup de logística, que promete conectar empresas a transportadores.
De acordo com o executivo, 40% das despesas consideradas desnecessárias pela empresa foram cortadas, como custos com marketing e treinamentos. “Estamos muito focados em ter uma operação saudável em termos de caixa. Tem startup que vai sofrer e tem outras que vão sofrer menos, porque o negócio é fundamental para a economia. Operamos um milagre com a rodada de investimento que recebemos”, ite Ferraz.
A Creditas também era cogitada para entrar no clube do US$ 1 bilhão pelas principais empresas de pesquisa do país e do exterior. Recentemente, a fintech de crédito realizou um corte de pessoas, mas garantiu que as demissões foram realizadas por mau desempenho, e não pela crise.
Queda nas contratações
Em live nesta quinta-feira (17/4), a diretora de operações da Creditas, Ann Williams, afirmou que reduziu a contratação para “quase zero” e colocou 400 funcionários de férias este mês. Além disso, destacou que a liderança abriu mão do próprio salário por alguns meses — o período, contudo, não foi relevado pela fintech. “Parece que a gente piscou e o mundo mudou. Agimos rápido para colocar todo mundo remoto”, afirmou a executiva na conferência online promovida pela empresa.
No mesmo debate virtual, Nicolas Szekasy, cofundador do fundo Kaszek Ventures, afirmou o setor de negócios e inovação vai ar por tempos difíceis, uma vez que a crise é global. No entanto, sairá na frente quem tem um negócio resiliente. “Sairemos fortalecidos”, garante ele, que ainda vê espaço para investimento em venture capital no Brasil.
Considerado o “Uber dos ônibus”, a B deixou de operar em março por conta da quarentena após registrar de 20% a 30% ao mês. Para não entrar no vermelho, Marcelo Abritta, cofundador da startup, disse que rescindiu alguns contratos mensais, como serviços de segurança para os ônibus — já que não está operando. “As empresas não vão quebrar. Elas vão postergar todas as contas e, quando a roda voltar a girar, elas vão voltar e renegociar. Estamos utilizando o tempo livre para trabalhar com controladoria financeira e automatizar processos internos”, afirma Abritta.
Apesar do crescimento da empresa, o empreendedor garante que não pensa em ver o negócio se tornar unicórnio este ano, nem quando a crise ar. “Não pensamos nisso esse ano. Se não, nossos 57 funcionários vão achar que vamos virar a Amazon em três anos, e não é bem assim”, brinca o empresário.